Bem vindas e bem vindo

O DEUS QUE ESTÁ EM MIM, SAÚDA O DEUS QUE ESTÁ EM VOCÊ

quinta-feira, 31 de março de 2011

AGRADECIMENTO A UM MESTRE

José Comblin deixou-nos no dia 27 de março último, depois de completar 88 anos de idade, vividos de modo despojado, fraterno e ecumênico. Pediu para ser enterrado em Solânea, PB, ao lado do grande apóstolo dos sertões nordestinos, o Pe. Ibiapina, para ele, um modelo para a missão, para a promoção humana, espiritual e apostólica dos pequenos e das mulheres e um verdadeiro santo, para nossos tempos.
Louvamos a Deus por sua vida e damos testemunho de sua entrega ao estudo e à formação a serviço dos pobres. Sua lúcida contribuição nos campos bíblico, teológico, pastoral e do compromisso cristão no mundo, sempre foi marcada pela busca da justiça e da transformação social. A partir dos últimos e excluídos, interpelava corajosa e profeticamente os grandes do mundo e da Igreja e as estruturas de opressão e exclusão.
A opção pelos pobres, que marcou sua vida, é um exemplo para nós. Por causa dos pobres, deixou a Bélgica e veio para a América Latina. Aqui, optou pelo nordeste, não o das capitais e sim o do sertão. Da experiência vivida entre os pobres, ele retirou o material básico para sua leitura da bíblia, sua espiritualidade, sua teologia, suas orientações pastorais. Nisso, tornou-se nosso mestre: nunca esquecer que o primeiro lugar no reino de Deus pertence aos pobres.
Comprometido com o projeto comunitário de igreja, Comblin dedicou especial atenção à formação de seminaristas em contato com o povo, visitando suas comunidades para com eles conviver e orientar nos estudos. Pensou num tipo de sacerdote nascido ou vivendo na zona rural, membro atuante de uma comunidade de base, e assim brotou a Teologia da Enxada que evoluiu para a fundação do Seminário rural. Para completar o quadro, Pe Comblin iniciou em Mogeiro-PB, o Centro de Formação para Missionárias do Meio Popular. Durante anos ele se desdobrou indo a pé ou de jipe para orientar a formação dos missionários do Campo e das missionárias do meio popular.
Escreveu muito. Fez inúmeras palestras e conferências. Assumiu uma enormidade de cursos formais ou intensivos para toda categoria de pessoas. Sua palavra foi dirigida a lavradores analfabetos e a doutores em teologia, mulheres da periferia e seminaristas, religiosas inseridas e bispos em assembléia, porque seu desejo era estar presente onde pudesse provocar ou renovar em seus ouvintes e leitores a conversão ao reino de Deus. Não poderemos jamais subestimar o valor dessa lição de disponibilidade como missionário e evangelizador.
Sua radical opção pelos pobres fez de Comblin um severo crítico do sistema capitalista e de seus instrumentos de dominação. Basta lembrar sua crítica lúcida e corajosa à lei de segurança nacional. Não contente com a crítica teórica, ele dedicou seu ministério presbiteral à construção de instrumentos de libertação dos pobres, como comunidades eclesiais de base, pastorais sociais e movimentos populares.
A maior lição do mestre Comblin talvez seja sua teimosa fidelidade à igreja. Foi nela e por meio dela que ele decidiu trabalhar a vida toda.
Este nosso testemunho é apenas pálido eco de milhares de pessoas, comunidades, dioceses e movimentos populares que estão agradecendo a Deus por sua vida e seus trabalhos. Sua palavra, seus escritos, sua coerência intelectual e pastoral são para a Igreja da Libertação uma verdadeira herança que devemos fazer frutificar.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Por uma hermenêutica pastoral libertadora

*A JORNADA DE CAFARNAUM por Pe. Xavier
Mc 1,21-39 e 2,1-12

Introdução
Após ter chamado Simão, André, Tiago e João como seus discípulos, Jesus os convida a ir com Ele até a cidade de Cafarnaum (Mc 1,21). O evangelista Marcos não fala do motivo desta viagem, mas uma coisa é certa: naquela cidadezinha Jesus e seus discípulos tiveram que enfrentar uma dura jornada. Simão, André, Tiago e João se deram conta, desde o primeiro instante, que seguir Jesus não é moleza. Logo no início tiveram que encarar uma dura lição que passamos a chamar de JORNADA DE CAFARNAUM.
A JORNADA DE CAFARNAUM é um tema que vem me fascinando há muito tempo, pois é um referencial para nossa pastoral. Ela descreve um dia típico de Jesus. Se alguém quiser conhecer como Jesus vivia seu serviço ao Reino no dia-a-dia, não pode prescindir da leitura atenta de tudo aquilo que Ele disse e fez no dia que passou naquela cidadezinha assim como nos foi relatado pelo Evangelista Marcos (1,21-39). Uma leitura atenta deste texto nos permite identificar algumas atitudes de Jesus que podem se tornar um referencial para a nossa vida e a nossa atuação pastoral:

  1. Jesus vai a Cafarnaum, ao encontro das pessoas sofridas (Mc 1,21.32-34): Ele busca o ser humano para marcar presença no seu dia-a-dia. O lugar e a opção preferencial da PAMEN: o ser da PAMEN é estar com as crianças e os adolescentes empobrecidos.
  2. Jesus entra na sinagoga em dia de sábado (Mc 1,21): Ele celebra com a comunidade. A dimensão eclesial da PAMEN: a comunhão e a comunicação com a Igreja local.
  3. Jesus impressiona os ouvintes com a autoridade de seu ensinamento (Mc 1,22). O jeito de ser que dá credibilidade à PAMEN: a melhor pregação é o testemunho da própria vida. O apelo à santidade.
  4. Jesus liberta de tudo aquilo que escraviza e aliena o ser humano, impedindo-o de pensar e agir por si próprio (Mc 1,23-28). A força libertadora e transformadora do trabalho da PAMEN.
  5. Jesus entra na casa da sogra de Pedro (Mc 1,29-31). Da posição horizontal à posição vertical: a verdadeira cura é aquela que põe o ser humano de pé para servir. O exercício da diakonia (serviço) como metodologia de trabalho da PAMEN.
  6. Jesus, de madrugada, se retira no deserto para rezar (Mc 1,35). A espiritualidade que alimenta o trabalho da PAMEN.

A Jornada de Cafarnaum mostra que praticamente Jesus passava seu tempo entre a sinagoga e as visitas às casas do povo; a ação e a contemplação; as atividades apostólicas e os momentos de silêncio; os encontros com as multidões e os momentos de solidão.
Ele tinha tempo para tudo. Não privilegiava umas dimensões em detrimento das outras. Dividia seu tempo entre a Palavra e a ação, entre a oração o serviço. Era justamente o equilíbrio entre todas estas tarefas a razão da qualidade de seu testemunho e da autoridade de sua pregação. Se por um lado, a intensidade de seus momentos de silêncio e de intimidade com Deus qualificava sua ação no mundo, por outro lado o carinho com que cuidava dos outros em seu trabalho pastoral tornava mais autêntico seus momentos de intimidade com o Pai. Trata-se de uma viagem com direito à vida e volta: se é verdade que somente uma profunda experiência de Deus pode dar qualidade ao trabalho pastoral, é também verdade que somente um trabalho pastoral realizado com qualidade garante a autenticidade da experiência de Deus vivida nos momentos de intimidade com Ele e nas celebrações comunitárias.

* Este texto é parte integrante do material da PAMEN trabalhado nos dias 25, 26 e 27/03, no Retiro espiritual para agentes da Pastoral do Menor, animado pelo P. Xavier, acessor nacional da PAMEN.



Por uma teologia pastoral libertadora

        “O cristianismo verdadeiro, puro, compromissado com as causas sociais, com os pobres, os excluídos, os injustiçados, com a vida do povo de Deus, - escreve Padre Djacy Brasileiro - está cedendo espaço para um cristianismo platônico, a-histórico, estéril e inócuo. Agora é uma vivência de fé extremamente conservadora, alienante, reacionária. Longe daquele cristianismo idealizado por Jesus, que vendo a multidão faminta falara: ‘Tenho pena deste povo, porque é como ovelhas sem pastor’. Um cristianismo libertador, que visava libertar o povo sofrido das garras dos poderosos, um cristianismo do Reino de Deus: Reino de justiça para todos: ‘Eu vim para que todos tenham vida’, disse Jesus... Eis, então, a missão de Jesus, eis o objetivo do cristianismo. No início da religião cristã, as comunidades cristãs viviam profundamente as palavras do Jesus libertador, hoje, no entanto, falam de um Jesus descompromissado com os pobres, os excluídos, enfim, com a justiça social. O Jesus de hoje é anunciado como aquele que cura e faz milagres na vida da pessoa, um Jesus que não está nem aí com as causas sociais que geram a cultura de morte. É o Jesus das promessas de riqueza, de curas, do bem estar pessoal. Não se fala no Jesus que quer que lutemos contra a fome, a miséria, a violência, a exclusão… O culto ou a celebração gira em torno de louvores, orações prolongadas desvinculadas da vida sofrida do povo, aplausos, choros, lágrimas, pula pula, gritaria, chegando às vezes ao histerismo. Até diria, que esses eventos ditos religiosos funcionam muito mais como terapia, como alivio de um espírito estressado. As leituras bíblicas são totalmente descontextualizadas, sem nexos com o contexto da época e com a realidade hodierna. Hoje, a leitura é escolhida de acordo com os problemas pessoais. Funcionam mais como remédio para a alma. As leituras são lidas e interpretadas de modo bem adocicadas e alienantes. Até diria, que não é levado em consideração o contexto social, político, cultural, religioso e econômico da época em que foram escritos os livros sagrados.
          As músicas cantadas hoje, nem se fala, são totalmente alienantes, voltadas mais para o emocionalismo. Não falam da realidade de milhares de seres humanos que vivem à margem da vida, não fazem nem um nexo entre o Jesus histórico e o seu povo sofredor. O que tenho observado, é que essas músicas não levam as pessoas a tomarem consciência de sua realidade cruel, não conscientizam, pelo contrário, fortalecem a alienação religiosa e por que não dizer, também política. Ora a alienação religiosa leva o povo a ser conformista, reacionário e cego no que diz respeito a sua própria cidadania. Sabem quem sai ganhando com tudo isso? A elite política. Claro,  quanto mais um povo alienado, reacionário, melhor. E assim, esse mesmo povo continua sendo tratado como massa de manobra.
           Enquanto as pregações são alienantes, desencarnadas, fora de contexto; enquanto as celebrações ou cultos são recheados de aplausos, lágrimas, vivas, danças, promessas de curas, milagres, libertação interior; enquanto as músicas são voltadas para o emocionalismo, para as nuvens, levando as pessoas ao comodismo e à alienação, o povão vai, a cada dia que passa, mergulhando no submundo da miséria, da fome, da exclusão social, da cultura da morte. Com isso quero dizer, que um povo alienado, reacionário, acomodado, com visão determinista não questiona, não cobra, não reivindica… Tudo é jogado para Deus, numa dimensão fatalista: “Deus quer assim… então vamos morrer assim”.
          O papel da religião cristão é alienar, impedir que o povo grite, reivindique, fique acomodado, esperando que as mudanças aconteçam a partir do céu, ou levar o mesmo a ter consciência crítica, a partir de uma fé libertadora, encarnada, historicizada? Onde, afinal, está o verdadeiro anúncio do Reino? O Reino que era o núcleo central de toda pregação de Cristo?
Agora pergunto: por que prenderam, julgaram e condenaram o Jesus de Nazaré? E por que disseram: ‘prendamos esse homem, ele anda agitando o povo, é um malfeitor?’. Jesus morreu de morte natural, ou foi assassinado pelo sistema opressor da época? E o que ele fez para merecer esse tipo de morte, que era aplicada aos bandidos?
            Sinceramente, estou cheio de tanta alienação religiosa. Não agüento mais.
Uma coisa afirmo, sem medo de errar: Enquanto a alienação religiosa avança, a cultura de morte vai tomando corpo para a desgraça do povo de Deus.
           Que Deus me dê a graça da sabedoria e do discernimento, para não me enveredar por esse caminho tão inócuo, que não agrada ao Deus da vida, que disse: “eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor por causa dos seus opressores; pois eu conheço suas angústias. Por isso desci a fim de libertá-lo da mãos dos egípcios,e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e vasta,terra que mana leite e mel(Ex.3,7ss.)”.
          Para concluir, cito o que o teólogo da teologia da libertação, padre Jon Sobrino falou, no livro Descer da cruz os pobres: “Jesus morreu na cruz, não porque Deus exigia o seu sacrifício, mas “por anunciar a esperança aos pobres e denunciar seus opressores” 

 (Padre Djacy Brasileiro, em 05 de dezembro de 2009).

sexta-feira, 25 de março de 2011

FRASES SOBRE EDUCAÇÃO

"Se você acha que a educação é cara, tenha a coragem de experimentar a ignorância."( Derek Bok )

"Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda."( Paulo Freire )


"Os filhos tornam-se para os pais, segundo a educação que recebem, uma recompensa ou um castigo. "( J. Petit Senn )

"O verdadeiro órfão é aquele que não recebeu educação."( Etienne Bonnot de Condillac )

"O importante da educação não é o conhecimento dos fatos, mas dos valores. "( Dean William R. Inge )

"O importante da educação não é apenas formar um mercado de trabalho, mas formar uma nação, com gente capaz de pensar. "( José Arthur Giannotti )


"O grande segredo da educação consiste em orientar a vaidade para os objetivos certos."( Adam Smith )

"Nascemos príncipes. A educação faz de nós sapos."( Eric Berne )

"Não se pode falar de educação sem amor. "( Paulo Freire )

"Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. "( Paulo Freire )

"O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele."( Immanuel Kant )

"O grande segredo da educação pública de hoje é sua incapacidade de distinguir conhecimento e sabedoria. Forma a mente e despreza o caráter e o coração. As conseqüências são estas que se vê. "( Theodore Palmquistes )
"Educar mal um homem é dissipar capitais e preparar dores e perdas à sociedade.
"( Voltaire )

quinta-feira, 24 de março de 2011

Nota de falecimento: Aos muito por ela amados amigos de Ruth Pistori...

Como o mundo necessita de mensageiros...
Nossa querida Ruth Pistori, a Ruthinha, não se sentiu bem na manhã de 22/03 e foi hospitalizada.
Submetida a uma cirurgia de urgência, não resistiu e nos deixou esta manhã... ela tinha pressa de encontrar-se com seu amado Jesus, e sobretudo, não queria dar trabalho a ninguém. 
 Ela que, em 1977, foi fundadora da Pastoral do Menor, juntamente com Dom Luciano Mendes de Almeida , foi conquistando amigos, não para si, mas para seus meninos, como ela dizia. Logo vieram Ir. Maria do Rosário, Pe. Júlio Lancelotti e mais um exército inominável de colaboradores juntar-se a ela, que foi uma incansável batalhadora pela criança e o adolescente: uma pastoral que lançou raízes pelo país inteiro e alcançou muitos outros países.

Chegou o momento de seu merecido repouso... e nós, seus amigos e admiradores, poderemos render uma última homenagem no velório que será realizado na Casa Santa Terezinha, sita à Rua Madre Linda Lucotti, 39, esquina com Cerro Corá, na Lapa.
 Às 9 horas da manhã, será realizada a missa de corpo presente, e às 10 horas o féretro seguirá para o Cemitério São Paulo, na esquina das ruas Henrique Schaumann e Cardeal Arcoverde, em Pinheiros.
 Mas em meio a nosso imenso pesar, como não nos alegrarmos por ela? O céu está em festa, com certeza!

E-mail: Ir. Maria do Rosário: residelaura@hotmail.com
Pe. Ovídio 
Pastoral do Menor Regional Sul I - CNBB
"A serviço da vida de crianças e adolescentes"
R. Major Claudiano, 1545 - centro - 14400-690 -Franca-SP
(16) 3721-1432 (13h00 às 17h00)
www.pastoraldomenorregionalsul1.com
pastoraldomenorsul1@yahoo.com.br

“O trabalho bem sucedido para Cristo não depende tanto de números ou de talentos, como da pureza de desígnio, da genuína simplicidade, da fervorosa e confiante fé”.Ellen White Assim, incansável em nossa causa, profunda mística de entrega na espiritualidade libertadora, o reino de Deus vai festejar, pois de fato, o menor foi acolhido, Jesus, menino Deus. Vai Ruth dá uma braço por nós em Joílson de Jesus, na pessoa do Cristo vivo, o Deus da Vida, Vai minha irmã!!!

quarta-feira, 2 de março de 2011

MATARAM MAIS UM IRMÃO ...

A Democracia sangra

02/03/2011 | Humberto Dantas *
Assassinar um defensor da Democracia é esquartejar o caráter de um povo.
Democracia não se constrói apenas com regras escritas. Longe disso, pois como prega o ditado: o papel aceita tudo. Democracia se consolida no cotidiano, no respeito às leis conhecidas, respeitadas e defendidas por todos, no exercício diário da tolerância. Democracia é um valor que molda o caráter de um povo. Democracia se pratica com gestos relacionais que não envolvem apenas os políticos, mas todos nós.
Em meio à ignorância política de seu povo, diante do afastamento e desconhecimento de direitos essenciais e de uma cultura pouco democrática detectada em diversas pesquisas nacionais e internacionais existe um país chamado Brasil. Nesta nação vivem sujeitos que ainda precisam pregar a Democracia em pleno século XXI. Eu me considerava um desses indivíduos. Mais de 150 turmas formadas em cursos de educação política, colunas em jornais e revistas estimulando o envolvimento cidadão, rádio e TV em larga escala, quatro livros tratando do assunto, milhares de horas de aula em graduação, pós-graduação e palestras, muitas palestras. Foi quando conheci o Tocantins. Muitos chamavam de fim de mundo, outros de terra de ninguém. Nada disso. Povo hospitaleiro, mistura de brasileiros dos mais diferentes estados, vontade de crescer. Fui à universidade, falei no SEBRAE, conheci prefeitos, apertei a mão de dois governadores, lancei livros e participei de eventos sociais. E foi nesse último que percebi como sou pequeno. Dom Heriberto Hermes é muito mais ousado. Forma para os Direitos Humanos, educa politicamente, desafia as autoridades, vai além dos limites da coragem. Coragem? Isso combina com Democracia? Definitivamente não.
Na segunda-feira dia 28 de fevereiro encontrei uma mensagem de Dom Heriberto em minha caixa de e-mail que dizimou meu desejo de acreditar na Democracia. Na porta de uma fazenda um corpo jazia com marcas de torturas. Ali estava Sebastião Bezerra da Silva, mais de 1,90 metros de altura que me faziam pequeno. Não tanto pelo meu 1,73 metros, mas principalmente pela grandeza de seu caráter, pela envergadura de suas ações em benefício da Democracia, pelo trabalho incansável no Centro de Direitos Humanos de Cristalândia ao lado de Dom Heriberto, amparado pelo desejo de a Igreja lutar por justiça social.
Sebastião era um homem que vivia desconfiado daqueles que não acreditam na cidadania, nos direitos humanos, nas leis e no Estado. Diante desse inimigo, vivia assombrado por algo que não tem uma única face. Gente assim existe em qualquer lugar. Entre os bandidos, empresários, policiais e políticos. Dentro de nossa própria casa. Sebastião foi assassinado pela distância abissal existente entre seu sonho por um mundo melhor e a crença absolutista e bizarra daqueles que desafiam a lei, duvidam da cidadania, afrontam a própria sociedade. Com Sebastião foi enterrada uma parte da Democracia. Para muitos uma parte pequena, mas para quem visualizou o tamanho de seu trabalho, o Brasil deveria respeitar um luto profundo, por aquele que partiu e por aquela que talvez nunca tenha nascido: a Democracia.
* Humberto Dantas é doutor em ciência política pela USP, professor universitário e responsável por ações suprapartidárias de educação política que já formaram mais de 100 turmas desde 2003. Articulista da revista Missões sobre temas de cidadania, direitos humanos, fé e política.
Fonte: Revista Missões