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DIÁLOGO E SINCRETISMO

A temática “Diálogo e Sincretismo” supõem que há uma ligação entre as duas coisas. Quero – antes de iniciar o tema propriamente dito – dizer uma palavra sobre esta ligação. Podemos especular sobre o que une a temática sincretismo e diálogo, podemos especular sobre o que é diálogo e o que é sincretismo, podemos falar sobre o diálogo como sincretismo, podemos inverter e falar sobre o sincretismo como uma forma de diálogo. Isto parece uma brincadeira de palavras e de certa maneira o é. Também se pode especular sobre qual o enfoque que se pretende dar à ligação entre sincretismo e diálogo: um enfoque econômico, filosófico, social...
Para não continuar neste nível de brincadeira, gostaria de definir logo de início que pretendo tecer aqui apenas alguns comentários sobre a relação entre diálogo e sincretismo no seguinte viés: o sincretismo como uma forma de diálogo. Isto pode parecer à primeira vista estranho se entendemos diálogo como um processo racional (e conscientemente conduzido) de conversação entre duas ou mais pessoas. Por outro lado se entendermos diálogo como interação entre lógicas ou sistemas diversos, seja esta interação conduzida de forma consciente ou de forma mais ou menos espontânea, então é perfeitamente possível entender sincretismo como uma forma de diálogo entre lógicas ou sistemas diferentes. E mais que isto, o sincretismo seria já a conseqüência (a prova!) de que o diálogo aconteceu, de que houve interação. Isto por pressuposto que na palavra sincretismo está incluída a noção de uma interação tal que ao final ambos os lados do dia-logo, tenham sofrido (ou enriquecido) modificações por causa dele.
Também quero deixar claro aqui que o tema do sincretismo como uma forma de diálogo será abordado em relação à religião. Ou seja, como sistemas religiosos “diferentes” entram em contato/diálogo e desta interação resulta que os sistemas sejam por ela afetados, ou seja, que haja conseqüências para os sistemas religiosos desta interação.
Se o sincretismo tem uma lógica, pode-se falar também na “lógica do diálogo”. Não quero aqui fazer filosofia sobre o assunto. Quero apenas chamar a atenção que para que haja diálogo são necessárias pelo menos três coisas: duas partes e a interação entre as mesmas.
Para se entender o sincretismo como uma forma de diálogo entre sistemas religiosos é preciso se desvencilhar da idéia de que diálogo é um processo conduzido com consciência prévia. Aliás, o diálogo nunca é um processo previamente conduzido. Ele sempre se dá e a sua dinâmica é que vai mostrando o seu caminho.
No caso do sincretismo, há de se observar a mesma questão. O sincretismo como diálogo é o encontro entre sistemas religiosos diferentes e a interação dos mesmos. A lógica que o conduz não é pré-estabelecida. Observa-se apenas que ele acontece e a sua lógica é a lógica do acontecer.

Volney J. Berkenbrock